segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cheguei...


O Meu Meio Século...


            
  Cheguei à meia idade...
  Ou... à idade do meio...
  O tempo correu depressa!!!...
  Parei... e olhei para trás...
  Vi essa estrada longa...
  Vi as lembranças doces...
  Porque as outras... não cabem...
  No cesto de flores que transporto...

  Quando lá longe, eu pensava...
  Que quando chegasse aos meus 20...
  Seria leve... solta...
  Saberia tudo ou quase tudo...
  Porque a pressa era tanta...
 
  Quando chegasse aos 40...
  Talvez algumas coisas acalmassem...
  Porque a vida era uma correria...
  Saudável... pensava eu...
  Talvez a suave calma fosse melhor...

  E finalmente hoje são 50...
  Cinquenta anos!!!...
  Meio século dirão !!!...
  Para chegar aqui...
  Corri, percorri, esperei...
  Sofri, sorri, gritei...
  Finalmente cheguei!!!...
  Cinquentenária serei!!!...





quinta-feira, 31 de maio de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

Miguel Araújo - Os Maridos Das Outras

Azeitonas - Anda comigo ver os Aviões

Palavras Ocas...

Vieste pela calada da noite...
Sussurrar-me ao ouvido...
Um não sei quê de palavras ocas...
Mas eu continuei o meu sono tranquilo...
Como se não te ouvisse...
E tu lá longe...insistias...
Em emitir sons surdos...
Chiuuu... que me acordas...
Mexe os lábios sem barulho...
Que a noite quer dormir...

Insónia

Este longo despertar...
Que não me deixa descansar...
E eu dormindo, sentindo...
Esta dor de escrever...
Para quê?...
Se eu não sei ler...
Nem fazer...
O que o silêncio me pede...
E tudo o que antecede,
Este meu enlouquecer...
Tenho que perceber...
Que eu tenho que adormecer...

Encruzilhada


Montei o meu cavalo de pau...
Cruzei palavras...
Cruzei mundos...
Cruzei vidas...
No meio do cruzamento...
Não sei que direção tomar...
Depois de tanto cruzar...
Voltei para o meu lugar...

Espelho

Vejo-me ao espelho...
O que vejo eu?
Uma menina linda...
Como um céu...

Vejo-me ao espelho...
O que vejo eu?
Uma menina linda...
Com um véu...

Vejo-me ao espelho...
O que vejo eu?
Uma menina linda...
Que se atreveu...

Vejo-me ao espelho...
O que vejo eu?
Uma menina linda...
Que se rendeu...

Vejo-me ao espelho...
O que vejo eu?
Uma menina linda...
Que adormeceu...

Vejo-me ao espelho...
O que vejo eu?
Uma menina linda...
Que renasceu...

Amo-te

- Amo-te...
Dizes-me tu...
Se não me amasses...
O que faria eu?...
Se não te amasse...
Onde estaria eu?...

Do outro lado da vida...
Onde tudo é diferente...
Onde a espera se prolonga...
Onde tudo se adia...
Onde o trilho desaparece...

Mas do lado de cá da vida...
O ontem é hoje...
A noite traz o dia...
O sol no horizonte...
A ave que pia...
E eu talvez um dia...
Oiça ao longe...
- Amo-te...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Viagens por outras Paragens



Sentada no meu canto…
Todos os dias viajo…
Por esse mundo fora…
Subo montanhas…
Desço ao vale…
Corro no deserto…
Escorrego nos polos…
Abraço o rio…
Navego no mar…
E por fim, já cansada…
Quando plano no ar…
Digo com espanto…
- Eu não saí do meu canto!...

Desespero



Esta espera... que espera...
Que me desespera...
De tanto esperar...
Este desespero...
Que me espera...

Dou por mim cansada...
De tanta espera...
Mas não me posso abater...
Por esta espera...
Que me leva ao desespero...

Por fim vencido o desespero...
E alcançada a espera...
Adormeço enquanto espero...

Um Dia Partirei…



Um dia partirei por esse mundo fora…
Como se fosse um pássaro sem asas…
Que voa de noite e de dia…
Para nunca chegar…
E nunca parar…
Para olhar o seu destino sem fim…

Uma viagem que me levará,
a planar no mar sereno,
a voar alto…
sobre as altas árvores da floresta…
que se curvam lentamente à minha passagem…
A voar sobre o casario…
que se ergue a pique para me olhar…

E eu, lá do alto agradecendo a todos…
Com um ligeiro sorriso…
Por terem reparado no pássaro sem asas…

Adeus



Foste embora de mansinho…
Sem nunca te despedires…
Nessa altura eu era menina alegre…
Não reparei no teu “Adeus”…
Porque “Adeus” era uma palavra pesada…
Forte…
A vida dessa altura…
Não me deixou pensar nessa partida…

Agora, cá de longe…
Olhando para o vazio desse Adeus…
Dei por falta dessa despedida…
Desse Adeus que eu não queria ouvir…

Sei que o remorso te acompanha…
E nunca quiseste dizer-me…
O Adeus que eu não queria ouvir…

Talvez um dia nos encontremos…
Por aí, na janela do tempo…
Para aí sim, dizermos o Adeus,
Que faltou na última despedida…

TU


Porque te leio...
e te trespaço com o olhar...
nesse fundo do teu ser...
quando me perguntas...
- Onde vais?...
Não... eu não vou...
venho...
venho desse tempo longo...
que me acompanha a caminhada...
lenta...
a passo por vezes...
mas com rasgos de alegria...

Não acreditas...
porque me vês sentada no pensamento...
e alheia nessa nuvem clara...
porque claros... são os sonhos que me perseguem...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Dia da Espiga

Ontem foi o dia da Espiga... todos deviamos seguir a tradição... mas ai a tradição...


A chuva
deixou a terra molhada.
Deixou a terra feliz
e passou...
Depois nasceram trigos, fontes, flores...
E foi tudo tão simples!

Sebastião da Gama

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Palavras


Berras...
Gritas...
Falas...
Protestas...
Sussurras...

Não Berres...
Não Grites...
Não Protestes...
Simplesmente fala...
Ou Sussura... se puderes...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Portugal



Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Miguel Torga, in 'Diário X'

quarta-feira, 9 de maio de 2012

SOL



Sol,
Porque te escondes?...
Atrás das montanhas...
Atrás do mar...
Atrás da nuvem...
Atrás de tudo...

Sol, perde a vergonha...
E aparece...

Vem de mansinho...
Sem muito calor...
Aquecer-nos a alma...
Com todo o fulgor...
Não percas a calma...
Vai aquecendo ...
Com todo o vigor...
Não nos leves a palma...
E fiquemos com um grande ardor...

Vem sol,
Vem aquecer-nos com o teu amor!...

terça-feira, 8 de maio de 2012

Vento



Vento... passas tão depressa...
Que não tenho tempo...
Para reparar...
Em tanto movimento...
Abres a janela...
Fechas a porta...
Levantas a saia...
Levas o lenço...
Cai o casaco...
E lá vou eu...

Mas... ó Vento...
Eu não tenho tempo...
Para brincadeiras...
Para tropelias...
Só para correrias...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Chuva


  Esta chuva que cai...
  Esta chuva que molha...
  Molha porque não cai...

  Cai a chuva… passa o vento…
  Vento que leva a chuva…
  Chuva que nunca cai…

  Se o vento passasse… e a chuva caísse…
  E se ao contrário…
  O vento caísse… e a chuva parasse…

  Talvez já me agradasse…

domingo, 6 de maio de 2012

O meu Bairro...


Hoje acordei... a pensar no meu bairro...
Casas pobres... de bairro pobre...
Mas de ruas largas de felicidade... e alegria sem fim...
Meninos de rua a brincar...
À malha, ao prego, à apanhada... ao pião...
Levantam-se vozes... cantigas em roda...
Giram... que giram as vozes em volta...
Todos vão passando... e acenando de alegria...
Levam estampado na cara... o porquê do Futuro...

E eu, manhã alta... sentada à espera...
Não sei bem de quê...
Talvez à espera de redescobrir a vida...
A vida que os meus amigos de rua...
Partilharam comigo e com o bairro...
Bairro que se esvazia aos poucos...
De brincadeiras... de meninos... de avós...
E nós, meninos de bairro...
Fomos espalhar a nossa alegria...
Por aí... pelo Futuro...

sábado, 5 de maio de 2012

Poema à Mãe


    No mais fundo de ti
    Eu sei que te traí, mãe.

   Tudo porque já não sou
   O menino adormecido
   No fundo dos teus olhos.

   Tudo porque ignoras
   Que há leitos onde o frio não se demora
   E noites rumorosas de águas matinais.

   Por isso, às vezes, as palavras que te digo
   São duras, mãe,
   E o nosso amor é infeliz.

  Tudo porque perdi as rosas brancas
  Que apertava junto ao coração
  No retrato da moldura.

  Se soubesses como ainda amo as rosas,
  Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

  Mas tu esqueceste muita coisa;
  Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
  Que todo o meu corpo cresceu,
  E até o meu coração
  Ficou enorme, mãe!

  Olha - queres ouvir-me? -
  Às vezes ainda sou o menino
  Que adormeceu nos teus olhos;

  Ainda aperto contra o coração
  Rosas tão brancas
  Como as que tens na moldura;

  Ainda oiço a tua voz:
  Era uma vez uma princesa
  No meio do laranjal...

  Mas - tu sabes - a noite é enorme,
  E todo o meu corpo cresceu.
  Eu saí da moldura,
  Dei às aves os meus olhos a beber.

  Não me esqueci de nada, mãe.
  Guardo a tua voz dentro de mim.
  E deixo as rosas.

  Boa noite. Eu vou com as aves.

                              Eugénio de Andrade




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Espera


Porque penso que existes?...
Mas não existes...
Porque esperei... esta espera sem fim...
Que me agonia... de tanto esperar...
E, afinal... é um esperar sem tempo...
Desse tempo que não existe...

terça-feira, 1 de maio de 2012

Liberdade


— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
 — Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in 'Diário XII'

domingo, 29 de abril de 2012

A Águia Tombou













Hoje caíram...
...palavras
...vozes
...raivas
...dores
...tristezas
...penas
e a Águia
razou o chão...
mas quem cantou...
foi o Dragão...

Noite


Pensei
Exitei
Aceitei

Entrei
Paguei
Sentei

Ouvi
Ri
Bati

Mas...logo
deu logro...

Que desilusão...
Agora... não pagava...
nem um tostão...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Talvez...

Um dia...
Talvez um dia...
Porque não deu certo naquele dia?...
Adia... adia... Talvez...
E o dia não chega...
Ficámos no Talvez...
Porquê... Talvez?...
Se eu não entendo o Talvez...
Nunca entendi o ...Talvez...
Ou Sim... ou Não...
Adiamos o Talvez...
Não... o Talvez não existe...
Ou será que um dia...
Talvez...

into...into...into...

Sinto
Pinto
Minto
A mim mesma...
Quiçá

Porque sinto?
Porque pinto?
Porque minto?
A mim mesma...
Sei lá...